Educação para a cidadania, pelo fim da violência

A cidade de Joinville tem registrado um aumento expressivo de violência contra as mulheres, chegando recentemente a 15 homicídios somente no ano de 2016. Em muitos casos, a violência de gênero tem relação direta com as mortes, que passam a ser consideradas feminicídio.

Confira o artigo da assessora de formação do IDDH, Daniela Rosendo, publicado no jornal ANotícia na última segunda-feira, sobre alguns aspectos que envolvem esses casos de violência, e a importância da educação para o empoderamento das mulheres e construção da cidadania tão cara à democracia.

Educação para a cidadania

No Brasil, um terço das pessoas entrevistadas pelo Datafolha concorda que “a mulher que usa roupas provocativas não pode reclamar se for estuprada”. Não é a primeira vez que nos deparamos com a culpabilização das mulheres pela violência da qual são vítimas. Em 2014, a pesquisa do IPEA já havia apresentado resultados parecidos. O que temos é o diagnóstico de uma sociedade machista, cuja dominação masculina vulnerabiliza as mulheres e, em uma lógica perversa, inverte a culpa e nos responsabiliza pelos atos de violência cometidos pelos homens.

Essa estrutura de dominação masculina atribui um lugar muito específico às mulheres (o privado) e determina como devemos nos portar – com recato. Quando uma mulher ousa romper com esse papel socialmente atribuído, a violência é justificada pela lógica da dominação, para que se possa corrigir os ditos “desvios”.

Segundo dados do Atlas da Violência 2016, no Brasil, uma mulher é vítima de estupro a cada 11 minutos e, a cada 3 horas, três mulheres são mortas, vítimas de violência, tornando o Brasil o quinto país do mundo que mais violenta mulheres. Só em Joinville, dentre 15 mulheres assassinadas em 2016, 8 mortes têm envolvimento de familiar ou pessoa próxima à vítima.

A noção de “crime passional” é insuficiente e problemática para compreender a dimensão dessa violência: as mulheres estão sendo mortas por serem mulheres que, como todos os sujeitos, têm direito à autodeterminação. A negação extrema dessa autonomia, na linguagem da violência, é o feminicídio.

A mudança desse cenário misógino passa pelo empoderamento das mulheres. Mas, como todo empoderamento, o protagonismo das mulheres incomoda aqueles que estão habituados a viver na zona de conforto criada e mantida pela sociedade patriarcal. Abrir mão dos privilégios e se comprometer com uma sociedade igualitária, na qual as mulheres tenham suas liberdades garantidas, é dever de todos e todas.

A educação cumpre um papel fundamental nesse processo, seja para promover o empoderamento das meninas e mulheres, que terão habilidades para se perceberem em situações de violência e buscarão se emancipar, ou para promover a reflexão de todos que reproduzem a alimentam os sistemas de opressão. Uma educação para a cidadania é meio para a libertação e uma sociedade justa.

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